A missão global da igreja depois da Covid-19 por Michael Oh – Esses dias de pandemia não são dias perdidos. Mesmo com as quarentenas globais e vivendo de forma mais lenta, a oportunidade para o evangelho acelerou. Michael Oh, Diretor Global Executivo/CEO do Movimento de Lausanne, espera ansiosamente uma era de missão global após a Covid-19, uma era na qual líderes criativos e ousados, que têm uma visão das estratégias de missão, trabalham de forma colaborativa para construir a comunidade que querem para o futuro.
Precisamos reimaginar um lugar, um espaço, uma presença; de amor, de alcance, de comunidade.
1. A necessidade da colaboração
Na Região do Nordeste do Brasil, o Sertão representa um grande desafio de evangelismo e implantação de igrejas, conhecido pelos evangélicos como a Janela 10/40 do Brasil, principalmente a zona rural. A Região continua sendo uma das menos evangelizadas do país. Embora nos últimos anos o número de evangélicos tenha crescido muito no Brasil, este não tem sido o caso do Sertão. Portanto, é hora da igreja focar seus esforços em favor da evangelização e implantação de igrejas em áreas mais carentes do nordeste, principalmente a zona rural sertaneja. A igreja evangélica brasileira precisa atender a este clamor.
Discípulos de todas as nações serão feitos quando os discípulos de todas as nações estiverem colaborando. É claro que ninguém acredita literalmente que poderá realizar a Grande Comissão a sós (pelo menos espero que não!) mas frequentemente agimos como se pudéssemos fazer isso; ou damos a impressão de que acreditamos nisso através de nossos catálogos, vídeos, pedidos de financiamento e nossas atividades ministeriais, no melhor do casos são isolados e no pior dos casos, competitivos.
Em meio às dores de cabeça e do coração da pandemia da Covid-19, uma benção é que a realidade da nossa necessidade uns dos outros está se tornando mais real para nós. Sentimos de forma mais intensa que nunca que não podemos cumprir com a Grande Comissão sozinhos, agora, que estamos em quarentena, quando não podemos sair de nossos lares, quando nossas igrejas não podem se reunir, quando eventos de alcance não podem ser realizados, quando não podemos enviar missionários, quando não podemos nem tomar um café com uma pessoa com a qual queremos compartilhar a esperança de Jesus.
Temos uma incrível oportunidade de aprendizado e de recomeçarmos. Precisamos uns dos outros desesperadamente para levarmos a esperança de todas as nações a todas nações. Como isso acontecerá em nossa nova realidade? É isso que precisamos descobrir juntos! Nesta nova estação, que talvez não seja só uma estação, mas nesta era de missão pós-Covid-19, uma era de mobilidade reduzida e de conectividade digital maior, como podemos colaborar pelo bem do evangelho?
Não existe um manual. Todos sabem que ninguém sabe o que fazer. Precisamos pensar, formar estratégias e agir como odres novos de vinho. Eu não acho que percebemos o quanto nosso planejamento e organização estavam baseados em barreiras e categorias de odres velhos. Por exemplo, a maioria dos grupos comunitários de igrejas eram organizados com base geográfica.
O conceito da comunidade precisa ser reimaginado, não definido pelas limitações de localização e espaços físicos, mas como relacionamentos comunitários sem fronteiras geográficas ou contabilizando o tempo de transporte. O mesmo vale para o alcance comunitário. Por exemplo, se uma comunidade cristã com herança cultural punjabi sikh de Edmonton, no Canadá, tentasse alcançar uma comunidade sikh em Punjab, na Índia com o evangelho?
Precisamos reimaginar um lugar, um espaço, uma presença; de amor, de alcance, de comunidade. É um odre realmente novo; que me leva ao meu segundo ponto, que é a necessidade de liderança.
2. A necessidade de liderança
Nós precisamos de LÍDERES, não só de gerentes, na era missionária pós-Covid-19.
O Movimento de Lausanne teve alguns líderes incríveis que falaram profeticamente em tempos únicos de desafios e oportunidades. Ralph Winter, em 1974, propôs um desafio à igreja mundial de mudar radicalmente sua estratégia missionária para envolver-se com Grupos de Povos Não-Alcançados pelo o evangelho; René Padilla e Samuel Escobar chamaram cristãos a abraçarem todas as expressões possíveis do amor de Deus na misión integral, ou “missão integral”; Luis Bush no segundo encontro de Lausanne, que reconheceu uma oportunidade única para o evangelho em uma área geográfica com a maior concentração de pessoas sem o evangelho, os pobres, perseguidos e a menor concentração de missionárias, conhecida como janela 10/40. Essas estratégias mudaram o jogo com estratégias que impactaram durante gerações.
A missão global pós-Covid-19 precisa de LÍDERES, não só de gerentes. Há muitos ministérios liderados por gerentes que sabem como manter e ajustar, e que também estão desesperados para as coisas voltarem ao “velho normal”. Precisamos de uma geração de líderes de missões inovadores, ousados, de empreendedores e criativos que não serão pegos de surpresa em tempos de crise nem desperdiçarão meses de oportunidade evangelística.
Ed Bastian, CEO da Delta Airlines disse: “Vamos passar o tempo nesses próximos meses construindo a empresa que queremos para o futuro, e não necessariamente reconstruindo o que tínhamos antes.” Vamos passar tempo nesses meses como influenciadores globais e tomadores de decisão reconstruindo juntos a estratégia para a missão global e comunidade que queremos para o futuro, e não tentando reconstruir o que tínhamos antes.
Esses dias não são dias perdidos. No geral sentimos uma aceleração nas oportunidades do evangelho e estamos ansiosos para sermos bons mordomos dessas oportunidades. Nós precisamos da visão, inovação e inspiração dos nossos líderes. Precisamos de colaboração para transformar nossa visão compartilhada em realidade. “
De onde obtemos tanta inspiração e ousadia? Hoje pela manhã eu estava lendo Neemias 2, um capítulo sobre o plano que Deus inspirou em Neemias e a ousadia empoderada por Deus que nasceu durante uma oração de arrependimento e intercessão de apertar o coração. Não existe expressão maior de liderança bíblica do que a oração. Não existe maior fonte de inovação de liderança do que a oração.
Quero também fazer um pedido especial para os pastores e missionários, o 1% que está no ministério de forma profissional: não negligenciem os dons incríveis, experiência e sabedoria dos outros 99%! Os 99% dos que não estão no ministério profissional, 100% dos quais são chamados a exercitar o trabalho dado por Deus, possibilitado pelo Espírito Santo e que abençoa o ministério! (Ef 4:12)
Os cristãos que trabalham no mercado buscam nos pastores e teólogos os conhecimentos de sua área de especialidade. Por que o 1% não olha os 99% para sua especialidade? Se quisermos algumas das melhores mentes de inovação e ousadia em nossa necessidade, temos que olhar e trabalhar com os líderes do trabalho secular. Eles estão levando o impacto do reino para cada esfera da sociedade – nas artes, mídia, ciência, tecnologia, arquitetura, medicina, e tantas outras. Precisamos deles. Não podemos cumprir com a grande comissão sem eles.
3. A necessidade de manter uma perspectiva global
Para meu terceiro e último ponto, eu gostaria de fazer uma súplica – eu suplico que você não negligencie o corpo global nessa pandemia. Isso não é só uma crise nacional ou regional. É global. E você não é um cristão sozinho em um só lugar. Cada cristão possui uma identidade compartilhada como parte do corpo de Cristo do mundo todo. E cada cristão possui uma identidade compartilhada – ser parte da missão de local e do mundo todo.
Sem dúvidas você está prestando atenção ao achatamento da curva em seu país, estado ou comunidade. Além disso, está esperando por uma desaceleração do crescimento da taxa de infecções e por um afrouxamento das restrições na sua comunidade. Mas essa pandemia é global. E você é parte do corpo de Cristo espalhado pelo mundo todo e é chamado/a para a missão global de Deus! Mesmo quando os dias mais difíceis dessa pandemia na sua região tiverem passado (pelo menos temporariamente), milhares de outras comunidades ao redor do mundo continuarão a sofrer.
Então quando eu olho para as estatísticas diárias da Covid-19 (diversas vezes por dia), meus olhos e coração frequentemente focam na Rússia, no Brasil, na Índia e na Nigéria. Eu olho para a África e América Latina, com um pouco de medo sobre o que os espera no futuro, temendo por nossos irmãos e irmãs naquelas regiões e pelas centenas de milhões de pessoas que não conhecem a Cristo.
Como diz uma versão de Hebreus 13:3: ” Lembrem-se dos que estão sofrendo. Lembre-se deles como se fossem vocês mesmos que o estivessem sofrendo” (em tradução livre). Lembre-se deles em suas orações. Lembre-se deles em suas doações. Lembre-se deles em suas estratégias. Lembre-se deles em seu planejamento de parceria.
Recentemente falei com um líder incrível do sudeste da Ásia que me disse: “Essa pandemia nos pegou de surpresa e não estamos prontos.” Mas lembramos um ao outro que mesmo quando muitas coisas na terra são abaladas, o reino de Deus não pode ser abalado. Mesmo quando estamos imobilizados, Deus ainda está se movendo. Mesmo quando estamos presos em um lugar só, Deus ainda é onipresente. Mesmo quando somos fracos, Deus ainda é onipotente.
Como podemos ser parte do trabalho de Deus nessa era de missões pós-Covid-19? Estamos ansiosos para descobrirmos isso juntos. O Livres está no sertão desenvolvendo as missões junto aos povos não alcançados e tem entendido esse tempo como um chamado à urgência de anunciarmos o evangelho e o grande amor de Deus por essas comunidades.
Fonte: Ultimato
Michael Oh atua como o Diretor Executivo Global/CEO do Movimento de Lausanne. Michael e sua família serviram como missionários em Nagoia, Japão entre 2004 e 2016. Lá ele fundou um ministério chamado de Christ Bible Institute (CBI), que inclui o Christ Bible Seminary, Heart and Soul Cafe, e ministério de implantação de igrejas.