Em nossa sociedade costumamos definir as pessoas pelo que elas produzem e não pelo o que elas são. Nosso entendimento do que é vocação tem tudo a ver com isso.
Vocação é uma palavra com muitos significados para nós. Alguns tratam seus empregos, carreiras e formações acadêmicas como definições para sua vocação. Outros a atribuem ao trabalho santo e ministerial de um padre, freira ou pastor. Entretanto, a Escritura tem uma perspectiva diferente em relação a essa palavra.
Destaco três verdades acerca do que a Bíblia tem a dizer sobre vocação. Continue a leitura e entenda mais sobre esse tema.
Vocação é sobre pertencimento
Você já reparou que na Bíblia todo mundo é filho, irmão ou parente de alguém? Naquele contexto a identidade de uma pessoa era definida por suas relações. O pertencimento a família e a comunidade identificava o outro.
Muita coisa mudou na história desde então. Em nossa cultura atual, chamada por alguns de “pós-moderna”, aquilo que fazemos é quase um sinônimo de quem somos.
Ao tratarmos nossa vocação como um tipo de trabalho específico ou um senso de propósito em alguma tarefa, diminuímos muito seu verdadeiro sentido e damos lugar a todo tipo de distorção.
Jesus causou tanto escândalo aos fariseus justamente por afirmar ser o filho de Deus. A identidade de Cristo estava no Pai. E, em contrapartida, o Pai declarava a identidade do filho: “este é o meu Filho amado” (Mt 3.17).
À semelhança de Cristo, somos vocacionados para pertencer ao Senhor. Somos de sua família e fazemos parte de seu povo. Essa identidade ninguém pode diminuir ou mudar.
Vocação é sobre a glória de Deus
Do termo vocare, que quer dizer “voz”, surge a palavra vocação. Há um sentido de “chamado” intrínseco neste termo. Se há um chamado, há alguém que está chamando. Na Bíblia, é Deus quem chama toda a existência pelo som de sua voz.
Da mesma forma que, pelo poder de sua palavra, o Senhor fez surgir a luz, o universo e a vida, ele convoca e vocaciona os seus. E para qual fim? Para o louvor de sua glória. Em outras palavras, somos vocacionados para glorificar a Deus.
A partir dessa perspectiva, se pertencemos ao Senhor, não há nada que façamos que não seja para glorificá-lo. Toda nossa vida é uma resposta a essa vocação.
Não existe trabalho “secular” e ministério sagrado. Quem pensa assim não molda seu trabalho ao chamado, mas o chamado ao trabalho. Trabalha como o mundo trabalha, como se Deus não tivesse nada a ver com o que se faz de segunda à sexta-feira.
A mãe que cozinha para seus filhos, o padeiro que assa o pão, o fazendeiro que colhe os grãos e o gari que limpa as ruas, no Senhor, o fazem para a glória de Deus. O Pai sustenta o mundo através de “trabalhadores ordinários”. Logo, não há nada que um vocacionado faça que não seja para glorificar o nome do Senhor (1 Co 10.31).
Como, portanto, trabalhar para a glória de Deus? Com toda a excelência.
Vocação é sobre responder ao amor de Jesus
Pense comigo em duas passagens do evangelho de João: Jo 18.18-27 – 21.1-19.
Antes de Cristo ir para cruz, Pedro havia dito que jamais o abandonaria. Talvez ele estivesse sendo sincero e, naquele momento, não havia dúvidas em seu coração acerca da sua fidelidade. No entanto, perdeu seu chão quando Jesus se entregou para ser preso. Mesmo depois de tudo que ele havia visto e vivido, Simão negou Jesus.
Lucas é enfático ao relatar que, no instante em que Pedro negou ao Senhor pela terceira vez, seus olhos cruzaram com os de Cristo e ele caiu em si (Lc 22.61). Ele traiu aquele a quem tinha dito que jamais trairia. Por isso, chorou copiosamente.
A vergonha seria a marca da vida de Pedro para sempre. Sua identidade de traidor seria sua sina. Sua vocação de discípulo e apóstolo ficaria para trás. Talvez fosse melhor voltar a pescar peixes… Mas não foi o que aconteceu.
João faz questão de relatar que, na noite em que Pedro negou Jesus, ele o fez três vezes diante de uma fogueira. No episódio do encontro de Cristo com seus discípulos após a ressurreição (Jo 21), o Senhor prepara uma refeição e restaura a identidade de Pedro com três perguntas diante de uma fogueira.
Jesus restaura a identidade de Pedro e sua vocação ressignificando o marco de sua traição. A fogueira não seria mais o lugar onde ele negou o Mestre, mas onde Cristo lhe vocacionou para pastorear suas ovelhas.
Jesus dá um novo significado às nossas vidas, mesmo quando falhamos e pecamos. Somos seus vocacionados independente do emprego, carreira ou trabalho que desempenhamos.
Nossa vocação em Cristo é responder ao seu amor.
Por Leonardo Vieira – Missionário do Livres
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